sexta-feira, 2 de março de 2018

A escrita não passa de um antiquário de palavras
Um ossário de idéias,
O arsenal ou arquivo morto de tudo que se viveu (ou se podia ter vivido,o que é pior ainda)
Escrever é reter as bravatas na mesa do bar,
Guardar tudo para quando já estiver em casa,
E explodir sozinha entre quatro paredes.
Escrever é conter a solidão ...
Deixar esvair o sangue,
O suor,
As lagrimas.
É fugir solitaria no meio da multidão...
Sem nunca saber afinal,
Para onde se está indo.

NO AMOR E NA GUERRA

Vontade de fazer algo que eu nem sei
Tocar tarol talvez
Te amar como se fosse a primeira vez
Te ligar pra dizer nada.
Lúgubre alvorada...
Meus destroços são como a fuselagem daquele avião que o jornal mostrou ontem.
Só sei que depois de ti,perdi a guerra...
Barricadas e campanhas que nunca prosperaram
Escopetas e soldados inúteis,marchando numa terra devastada
Alta madrugada...
Na dor,todos os poetas se copiam
E isso não me enfurece, não me enternece,
Só me leva a crer,que eu nunca assinarei um Tratado de Versalhes com você.

QUARESMA

Muita gente gosta de mim porque eu escrevo.
Não porque eu seja mais ou menos bonita...ou mais ou menos velha,
Ou mais ou menos inteligente,
Mas principalmente 
Porque eu sei fazer o trocadilho na hora certa.
Às vezes pago as drogas (e as contas)
Às vezes não...mas de um modo geral sei me divertir.
Quem gosta de escrever é assim,
Vai até aonde dá
Pode até aonde chega
Às vezes pode mais ou menos,
Mas chega em casa e ainda tem retórica e folego o suficiente para dizer que foi bom.
Deu o que tinha que ter dado,
Valeu enquanto durou...
Amanhã é outro dia.
Noticias distantes poderão nos trazer outras perspectivas
Saldos bancarios nos trarão outras dores
Mas a literatura estará ali
Como um furúnculo,um enfizema que se recusa à curar,
Um oceano inteiro pra nadar.
Outra,ou talvez mais outras pra gente beber.
A vida é essa coisa louca que a gente abandona 2 da manhã no pós carnaval.
E se tudo der certo, daqui a pouco é de novo Natal...
E a gente vai vibrar,e pular,e esperar presente
Sempre presente.
Enquanto dure.
Ao menos até chegar a Páscoa.

TORMENTA

Uma sinfonia enfurecida retumba sobre o céu de Copacabana,a eterna princesinha do mar,hoje irada rainha dos raios.
Cai o sinal da Oi e com ele todas as expectativas periclitantes,os sonhozinhos medíocres,as investidas vãs...
Ainda haverão outras manhãs,depois do temporal?
Chove a cântaros enquanto luto para que não esmoreça minha criatividade
Na cidade, cinza e crua, um homem encharcado grita na rua: "É chuva,é chuva !!!"
Caem sobre a terra todas as lágrimas de um deus que talvez nem exista
E no mar,a deusa natureza arreganha os dentes e amedronta os navegantes.
Daqui do 8°andar sinto um pouco de medo da vida,nunca dos trovões,
E no fundo sei que os dois se comportam como cachorros tolos que latem, mas não mordem.