sexta-feira, 9 de novembro de 2018

BUDISMO PÓS MODERNO

Nessa cidade com seis milhões de habitantes
eu só queria me perder de todo mundo
Me perder e te encontrar
Te prender e me soltar
Nessa cidade dúbia impregnada de amor e morte eu queria ter a sorte
De cruzar contigo na rua
Ter de ti todo o chamego,toda a ternura
Meus desejos mundanos sendo um a um saciados
Andar sem olhar pros lados
Meio viva,meio morta
Iluminada às quatro da manhã como uma lâmpada de 120 watts
Apagada às duas da tarde...capotada, já prestes a devorar a sobremesa
Quanta tristeza,saber que tá tudo errado
Os acordos pré combinados
Bodisatva numa vida dolorosamente vazia
Mistério,aniquilação,teorema
Eu queria ir contigo ao cinema
Comprar pipoca na calçada da cidade caduca
Fundir de vez com a minha cuca
Tentando entender em que capítulo você deixou de me amar ou, se tudo não passa de um sonho ruim
Pra mim,nessa cidade de seis milhões de habitantes,ninguém entende porra nenhuma da existência
Bodisatva burguês na Zona Sul
Estopim de bala na Baixada
Mataram dois jovens na madrugada
Satsang com a polícia
Karma do menino negro confundido com bandido.
Queria um mapa demográfico pra visualizar aonde pernoitam os corações mais vermelhos da capital, mas na hora da morte todo sangue que escorre é igual,e tem aquele mesmo gosto de ferro
Eu não exatamente te venero,mas queria só me acomodar, porque procurar amor na cidade violenta dá uma preguiça danada
Preferia estar contigo deitada
Nosso samsara particular e a senha do Netflix da tua mãe
Nirvana dos corpos acompanhados de felicidade supramundana...sexo,chocolate, coca cola
Mas você preferiu ir embora
E nesta cidade de seis milhões de habitantes me acostumei a ser só mais uma na multidão, buscando minha paz solitária,sempre atropelada pelo grande veículo.

TARDE DEMAIS NO HORÁRIO DE BRASÍLIA

Passei horas tirando aquela purpurina dos olhos naquela manhã do carnaval de 1997 quando você me abandonou
Me lembro como se fosse hoje
Passava no cinema aquele filme do Tarantino
A gente nunca teve mesmo o mesmo gosto musical
Em seguida saiu no jornal:
Manchetes alarmantes
Coisas que num futuro distante encontraríamos no Google
O Brasil não é mais como antigamente
E mais antiga ainda é a forma tão arbitrária que já viveu nossa nação
Sem noção o povo elege novamente seus devoradores
Eles sangram nossos ouvidos pela rádio fm e a televisão
A gente toma um café no meio da confusão e conversamos sobre tantas coisas...
A conta de luz,o petróleo é nosso, o Cinema Novo é nosso
Vão terminar a Transamazonica, a Estrada de Pau a Pique
As grandes rodovias do pais cortando nossos pulsos
Atravessando nossas artérias
A gente se perdendo
Sem pátria sem oceano
Só a pororoca ao som dos pássaros as 6 da manhã
Fitzcarraldo levando ópera para o interior do pais
Eu parecia feliz,mas eu estava passada..
Até aquela madrugada,não sabia que você trabalhava pro governo
E que algo além de você nos separaria
Mas amanhã é outro dia
O Brasil renasce das cinzas como uma fênix flamejante
Não há mais tempo para devaneios burgueses
Pingam dos bolsos os últimos centavos
As moças do passeio são nossas drogas pesadas e só temos um pouco de vinho a ser dividido entre tanta gente
Que tal o último suspiro de um casal que nunca se formou?
A questão não é a dor
Ou quanto você a mim preteriu
Desde que você partiu
Penso que foi melhor assim
Amanhã é terça ou quinta-feira
A gente se distanciou tanto que desde o início dos 2000 nunca mais se viu
E você me aparece agora
Essa hora...
Querendo dançar um antigo hit do Fatboy Slim
Pois pra mim
A gente já era
Como o Atlântico Norte
Cheio de peixes nadando ao lado de embalagens de anfetamina
O grande império marinho dos plásticos.
Mas a gente enxerga o céu com as nuvens intocáveis
De longe parece tudo tão belo
Mesmo com todo lixo espacial
A gente lê no jornal,que pode dar certo ou
Que vai chover na segunda-feira
Sexta o horóscopo diz que a gente pode ser feliz
Não há perspectiva mas acontecem muitas sincronicidades
A gente vai atravessando as cidades
Dormindo nos pontos de ônibus
Aprendendo alguma coisa de inglês
Quem sabe a gente encontre outra vez
Sem mágoas,foi um prazer tê-lo conhecido nessa mesma pátria mãe gentil
Onde os egoístas fecham os olhos e toda gente pára pra ver a polícia prender mais um crucificado pelo sistema.