quinta-feira, 27 de agosto de 2020

CORAÇÃO SELVAGEM

Meu coração,forte caixa torácica que não lhe deixa explodir

Meu coração,sempre as mesmas tonturas,sempre as mesmas ternuras,

sempre a mesma vontade de desistir

Meu coração,antes de você chegar, era tudo mato

Agora não te mata tampouco arrefece,enquanto minhas papilas não te esquecem,o meu cérebro pensa em ti

Você não merece,é loucura dizer :

Mas meu coração,esse órgão funcional perdido em alguma medida entre artérias e gozos

Não sabe nunca aorta jugular

Não sabe nunca a hora de parar.

POEMA PARA PAUL GAUGUIN (QUE VIVE EM SÃO PAULO)

Uma boca tão grave com um nariz tão pós impressionista não deviam se meter assim comigo

Tão longe tão perto

Meio desocupado

Bigode dourado,olhos se avelã

Logo de manhã,olho a caixa de entrada

Procuro uma mensagem da madrugada

Artista?Matemático? Lunático?Vegano?

Vendedor de sapatos.

Mais um crush das redes sociais

Eu tola, procurando resposta nos jornais,

me abandono no desejo de querer 

E entre esses livros todos eu prefiro a mitologia do teu beijo grego

Néctar e ambrosia

Vou fazer uma economia,voar num ônibus alado

Te encontrar despudorado

Te levar pro Senegal

Não me leve a mal,mas como eu queria essas pernas brancas enroladas nas minhas num sofá-cama velho

Pra que todo esse mistério? Esquece logo essas outras opções

Essa vontade secreta de habitar outros corações

No imobiliário que a vida oferece,ocupe a sua própria casa

O que é mais importante, amar ou ser amado?

Pra mim,te deixar tarado

(Cachorro, gato,papagaio)

Pra sempre, feliz do meu lado.

domingo, 5 de abril de 2020

VERÕES DESPERDIÇADOS

De que adianta toda essa poesia brotando pelos poros,
repetindo 20 vezes a mesma música
Jorrando como ama de leite
De que adianta toda essa abundância prosopopeica se hoje é domingo e você está em outra vibe,
pulverizado por pensamentos que são como bombas de efeito moral,desconcertado, enfiado num terno tão cool
De que adianta toda essa eloquência onírica
se cato moedas nos fundos dos bolsos que estão tão perdidas quanto eu
De que adianta tua polidez,inculco as reticências,na última vez que te vi você não disse que sim nem que não.
De que adianta tanta solidão se o que vem depois é só mais um longo dia quente.

SAFO À BEIRA MAR

Atravesso a cidade como uma flecha
Deixo para infartar mais tarde
Sinto todas as nuances da existência no metrô
Trabalho esse poema
Escorrego no banco e me recomponho
Falta uma estação.
Tenho um celular que funciona e apesar da extração desumana de Silício eu escuto Range Life do Pavement nos meus fones de ouvido (pouco importa)
Vivo no Rio de Janeiro em janeiro de 2020.
Se tudo der certo eu me safo
Se tudo der certo.


COACHING LITERÁRIA

Eu sou essa que escreve em qualquer lugar
Usa qualquer coisa pra fazer poesia
Enlouquece na medida do possível
E vive, acima de tudo.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

REVELAÇÃO VIRAL

Esperávamos um tsunami
Um meteoro
Uma invasão alienígena ou
bolas de fogo.
Quem se importa com os mortos em NY,na Lombardia?
Como estará se protegendo o Bob Dylan na quarentena?
Todos os poetas escrevendo
Os mares purgando
 As flores crescendo e os desempregados recentes se jogando de sacadas no 8° andar.
Como estarão os bons (em desespero)
Os maus (em desespero) e os imunizados acima do bem e do mal...
A quantas anda o jornal? Só não fatura mais que os supermercados e as UTIS
Mas vejo da janela o sol que ainda se levanta
E o vento forte que pulsa como antigamente
Algumas coisas se repetem
A mesma cama,o mesmo drama,a mesma gana
De resistir.

sábado, 16 de novembro de 2019

NA PISTA

Estou cada dia mais distante e aérea,
como um balão de gás hélio...
me afastando das pessoas com meus
segredos introspectivos e minhas
certezas subjetivas ( é tudo afinal sobre si)
sei que existem possibilidades infinitas e, se tudo der certo e a vida durar,continuarei esperando que os outros falem pra fora alguma verdade,
continuarei calculando a idade da terra
e quebrando todas as chaves na fechadura.
sinto que chegarei lá mas por enquanto
só estou dispersa,
recebendo e processando,
diletante mas compreendendo,
passando a esmo nas estações de metrô,
atravessando bairros distantes.
curtindo na casa do cara,
dormindo no apê da mina,me vendendo nos grandes magazines da cidade grande.
circulando e, apesar de tudo, sobrevivendo.
sendo inocente e boa hoje, indecente e má amanhã.
eu estou no mundo:
oficio único e individual dos viventes,
tudo que me for permitido eu serei
e quem pode me parar?
estou para o Brasil
como o mar está para peixe...afogada e respirando,
submersa até a medula.
a vida é minha unica companheira e a essa altura do campeonato,
o que poderá me deter além da morte?
isso não é um poema apenas,
não um poema superficial.
no jornal,
notícias tórridas,
e apesar delas,
o fim dos dias é só uma possibilidade remota.