sábado, 21 de setembro de 2019

Estamos todos perdidos...
Ana Cristina César, essa sereia de papel, fazendo bungee jump sem
proteção,Rimbaud enlouquecido, fruindo os próprios desejos-ensejos na África,Piva desesperado(só queria ser gay e continuar na marginalidade)...
E eu também,aqui perdida no meu mundo,lidando com o fim de todas as certezas na pós modernidade, esperando uma brecha,um mínimo alivio ou sopro divino que acerte meu relógio biológico,lave minha alma,expurgue essas encucações, agonias impostas pelo deus-cão- dinheiro e pelos amores comprados/vendidos na esquina.
Food lovers.Fucking lovers.
Seria mais amada se vivesse em opulência,sisal coberto de pérolas,ourivesaria,tudo, tudo dando certo.
Mas acontece que prefiro cartéis à saraus,pobres à ricos,riscos à segurança de uma vida de tédio e coisinhas de cama mesa e banho.
E quem pode me julgar por uma ou outra obsessão ou mesmo pelas unhas roídas?
Quem nunca atirou a primeira pedra e se arrependeu,que entre no céu na cara e na coragem.
Se todas as contas estão em haver,sinto em lhes dizer,todo mundo aqui deve alguma coisa.
Estamos todos perdidos e mais um dia se perdeu...
Pois apesar de cruzar contigo na rua,não teve encontro entre você e eu.

LINHA 2

Precisamos falar sobre os amores de metrô
Os amores de metrô são essenciais em nossa existência
Fugazes e fulminantes, raras vezes rendem um motel.
Os amores de metrô são só olho no olho e luzes frias agindo sobre a íris a 55 metros abaixo do nível da rua
Precisamos falar sobre essas ruas das grandes cidades, tão compridas, tão escuras, lindas e terrivelmente perigosas a 1 hora da manhã
Sem ninguém
Solitários atravessam a esmo como loucos, pelo meio fio, asfalto doloroso que rasga e se abre sob pés cansados, All Stars de um passado longínquo.
Reticências de uma vida dúbia
Aforismos e dilemas de quem não se leva muito a sério e sabe brincar
Precisamos falar sobre os amores de metrô
Vozes flutuantes:
"mind the gap”, “next station”
Mentes delirantes, desejos beligerantes, solidões constrangedoras, vontades infinitas.
Precisamos urgentemente falar sobre a vida
Existências transversais atravessadas por afetos passageiros
Um instante! Como o nascimento ou a morte
Um momento de redenção
Precisamos falar dos amores de verão
E sobre a angústia do dia a dia.
Precisamos, pois, conversar sobre as coisas
Antes, durante e depois das tardes cinzas,adentrando pela noite desoladora.

CORAÇÕES VULNERÁVEIS

Tanta solidão e tanto desejo
Tanta disposição e tanta gente necessitada de ajuda
Tanto vicio e tanta virtude
Cato os cacos da vida,
vidros letais que me mordem os pés
Dias fatais que me comen as unhas
Tanta angústia e ao mesmo tempo tanta satisfação
Chove a cântaros nessa cidade cheia de gente e vazia de calor humano
Da janela torres,pássaros e água,lavando a alma de tanta ânsia de liberdade
Na cidade,espelho circunflexo,meu reflexo
Tanta mudança e tanta rotina
Abro a cortina...da rua escuto passos.
Não são os seus,que agora estalam outras calçadas
Nossas madrugadas,mostraram-se com o tempo vazias de novidade e entendimento
Tanto desertar e tanto pertencimento
Escuto a 6° de Beethoven e descubro,como Kerouac,que não nasci pra ser atleta, vendedora,corretora,professora.Nasci pra ser Beethoven
Ser Di Prima e criar com os beats a religião definitiva que reunirá poesia e misticismo,reverenciará Dostoievski e outros deuses
Tantas vezes acordei com esse sentimento lento,meio dor meio descontentamento
Tantas outras dediquei-me a jorrar em teus braços,menino
Agora tanto desatino
Tanto tenho para esquecer
Mas assim que amanhecer,terei luz e santidade
Na cidade,guardiã dos nossos pensamentos,
sopra o vento
Único companheiro dos que possuem um coração vulnerável.

OUTRA

Eu queria não ser essa que chora todas as noites
e molha a fronha do travesseiro
Eu queria não ser essa que escreve essas frases sem sentido e faz esses desenhos sem talento
Queria ser a moça que fui outrora...tanto porvir,cabelo ao vento,abraçando o mundo com as pernas e correndo contra o tempo
Queria não ser essa que viveu a década de 80 e agora tem que engolir à seco a pós modernidade
Na minha idade,feelings beiram o irracional,romance só se for no jornal,volúpia é comer frango e farofa
Senão pode haver galhofa.
Eu queria não ser essa mas aquela
Tipo Ana Cristina César num voo sem escalas direto para o Vale dos Suicidas
Por panos quentes em minhas próprias feridas
Ser levada a sério uma vez na vida.
Mas morrer de tédio não é uma boa pedida
Então queria o prêt à porter de modas e costumes
Ver todos meus poemas em lindos volumes
É...eu queria ver
Eu queria ver para crer mas não creio em nada tampouco no deus dinheiro e sei que a classe operária nunca irá ao paraíso!
Nem sei porque insisto...
Acho tudo injusto mas sufoco esse gritinho histérico pois ninguém vai ouvir mesmo.
Eu queria não ser essa que teima em rimar
E queria que o mar me levasse para longe e eu pudesse viver em silêncio junto a esses cardumes de peixes coloridos que a gente vê atravessando naus naufragadas.
Queria poder pegar de novo a estrada
Voltar e escolher um caminho novo:
Mais mímesis
Menos poesis
Muita perspicácia
Pouca parvulez
Para aprender de vez
A levar de boa a vida e a finalizar argutamente um poema.
Quando partisses,ficou melhor minha literatura
Essa altura,eu já fazia coelhos em dobradura de papel
Nâo enxergo mais à noite como enxergava antes
a visão turva
espreito de esguelha as capas do livros,dos discos e esse teu descanso de copo dos Beatles
Os dias passaram e agora chegamos aqui nessa manhã sebosa,indie rock e nostalgia
Minha literatura dura,assim também teu membro rijo outrora na aurora,big bang de prazeres,todos finitos.
Tua filosofia não explica em fotos 3x4 nossa iconografia.
será que existe alguma foto nossa? Eu que não me ligo em tecnologia e você que nunca pensou em me fotografar
Por este bar,passamos outras vezes,simbolismos que permeiam a vida.entretenimentos com uma nova edição do velho Ginsberg,com uma nova canção da Madona e pilulas novas de contenção.
Mas o espirito não se contém,corre solto as madrugadas,dilacera o casulo,pega o coelho,o coelho num pulo.O coelho à beira da nossa estrada.Estribilho,dormência de emoções.Temos todas as razões mas não damos fim ao caos porque é o caos que norteia o vórtex.
Tóxicos já não mais nos entretêm.Caindo sem escalas no túnel do niilismo.
-Viver todos esses poetas,esses outros poetas,na minha própria pele-
Nada mais faz sentido,se foi-se o seu amor,foi-se só mais um,irão-se todos.
Mas minha literatura ficará melhor e em minha sepultura (morte que flerta) grandes girassóis e honrosas palavras.

A-GNOSTOS


Algo me consome e falo 1000 poemas para minha própria cabeça dentro do táxi.
Chego em casa,giro vagarosamente a chave na fechadura
Abro a última cerveja e deito na cama
Me deixo engolir pela via láctea
Todos os poros abertos
Todos os pêlos arrepiados
Meu corpo erótico,político,metafísico,cético e transcendental estará entupido de atma,ou cheio de oxigênio?
Na penumbra da lua
Luz de mercúrio que arde...
Deus é só uma possibilidade,
No infinito da minha ignorância.
Eu esquento a tua cama sozinha,enquanto buscas o delírio antimonotonia,
O veneno dos coletores/caçadores de problemas.
O teu bálsamo é a tua ruína.
Eu lavo as tuas louças como se fossem as minhas
E mastigo tuas entranhas (meu prazer inconteste) sem esperança que movas uma palha para me satisfazer.
Teu sexo pulsa e vinga tuas incoerências
Eu reclamo tua palavra
Honra de qualquer um que não queira se perder por aí.
Busco-te na equação fundamental da nossa matemática
Números infinitesimais ad infinitum
Religares bestas na liturgia da tua igreja Homérica do 7° dia de Zeus.
Eu não te tenho e também mais ninguém
Pois seus olhinhos esfomeados não se detêm.