sábado, 21 de setembro de 2019

OUTRA

Eu queria não ser essa que chora todas as noites
e molha a fronha do travesseiro
Eu queria não ser essa que escreve essas frases sem sentido e faz esses desenhos sem talento
Queria ser a moça que fui outrora...tanto porvir,cabelo ao vento,abraçando o mundo com as pernas e correndo contra o tempo
Queria não ser essa que viveu a década de 80 e agora tem que engolir à seco a pós modernidade
Na minha idade,feelings beiram o irracional,romance só se for no jornal,volúpia é comer frango e farofa
Senão pode haver galhofa.
Eu queria não ser essa mas aquela
Tipo Ana Cristina César num voo sem escalas direto para o Vale dos Suicidas
Por panos quentes em minhas próprias feridas
Ser levada a sério uma vez na vida.
Mas morrer de tédio não é uma boa pedida
Então queria o prêt à porter de modas e costumes
Ver todos meus poemas em lindos volumes
É...eu queria ver
Eu queria ver para crer mas não creio em nada tampouco no deus dinheiro e sei que a classe operária nunca irá ao paraíso!
Nem sei porque insisto...
Acho tudo injusto mas sufoco esse gritinho histérico pois ninguém vai ouvir mesmo.
Eu queria não ser essa que teima em rimar
E queria que o mar me levasse para longe e eu pudesse viver em silêncio junto a esses cardumes de peixes coloridos que a gente vê atravessando naus naufragadas.
Queria poder pegar de novo a estrada
Voltar e escolher um caminho novo:
Mais mímesis
Menos poesis
Muita perspicácia
Pouca parvulez
Para aprender de vez
A levar de boa a vida e a finalizar argutamente um poema.

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